Que mulher nunca se sentiu sozinha, triste e com sentimento de culpa logo após tornar-se mãe? Acredito que se essa pessoa existir, merece ser estudada pela NASA (rsrs). O mais comum, por conta do nosso modelo de sociedade e cultura, é que as mães, mesmo aquelas que contam com pessoas para lhe ajudar, sintam em algum momento a necessidade de extravasar, de buscar apoio emocional, de se reposicionarem enquanto mães, mulheres, seres humanos. As crises parecem ser mais intensas com a chegada do primeiro filho, quando pairam dúvidas e mais dúvidas, sem falar nos hormônios à flor da pele.
A fisioterapeuta cuiabana Josemara Lima passou por essas dificuldades quando trouxe ao mundo Sophia, há pouco mais de 2 anos. Ela teve problemas na amamentação e sofria com palpites que em nada ajudavam, pelo contrário, só deixam a mulher mais desestabilizada e com mais dificuldade ainda em produzir leite. Estudiosa, ela procurou ajuda profissional no banco de leite do Hospital Universitário Júlio Muller e conseguiu viver um novo capítulo em sua maternidade.
Após ser ajudada, ela quis ajudar outras mães também. Compartilhou com algumas amigas a vontade de criar um grupo para tratar do tema maternidade de uma forma sem julgamentos, palpites de senso comum, mas com empatia e busca por soluções. Assim, em 22 de janeiro de 2018, surgiu o grupo Supermães no WhatsApp, com 12 mulheres dispostas a se apoiarem no exercício da maternagem.

Em pouco tempo, as mães foram adicionando amigas gestantes e recém-mães, que estavam em busca de trocar experiências, desabafar, dar dicas. Hoje, o grupo já tem mais de 200 participantes, mas, ao longo de sua existência, já passaram por ele cerca de 500 mulheres e até um papai, não só de Cuiabá, mas do interior e até de outros estados.
O grupo funcionou somente de forma virtual por cerca de 6 meses, até que as mães resolveram se encontrar em um evento voltado para o público materno, com o objetivo de se conhecerem e conhecerem os bebês umas das outras. Desde então, as administradoras do grupo decidiram organizar seus próprios encontros, feitos mensalmente, para debaterem temas relacionados ao cotidiano de mães/pais e bebês. Realizados graças ao voluntariado de mães que disponibilizam espaço físico e de profissionais que aceitam levar seus conhecimentos.
Os encontros do Supermães já trataram sobre diversos temas: sono do bebê, culpa materna, rede de apoio, introdução alimentar, amamentação, parto, exterogestação, disciplina positiva, carga mental das mães, educação montessoriana, entre outros. De acordo com Josemara, os temas vão sendo definidos conforme as demandas das mães, expostas no grupo do WhatsApp.
Ao longo desse tempo, as supermães já participaram de campanhas de doação de leite materno, Agosto Dourado, realizaram ações solidárias em prol de mães e bebês carentes, oficinas, ofereceram visitas domiciliares e consultorias de amamentação às puérperas que precisaram de ajuda. Em 2019, o grupo se destacou pela união das mães para levantar recursos financeiros e enviar representantes ao Encontro Nacional de Aleitamento Materno (Enam), ocorrido no Rio de Janeiro, em novembro; e também por apresentar trabalho acadêmico no Fórum de Promoção de Saúde de Mato Grosso.
Flávia Pires, servidora pública e mãe do Benício, de 8 meses, é uma integrante do grupo Supermães que já recebeu a ajuda direta de outras mães em sua casa, em dois momentos de necessidade. “No período da amamentação, eu fui visitada por Mari, Jesiele e uma outra pessoa, que eu não me lembro que era. Elas me ajudaram na amamentação e aquilo foi essencial, muito mais pra minha sensação de que eu não estava só do que na ajuda da amamentação em si. Não que não tenham me ajudado na amamentação, mas, eu acho que, de um jeito ou de outro, eu ia conseguir sair”, afirma.
E Flávia complementa:
Saber que eu não estava só, que tinha mulheres que passavam pela mesma coisa que eu e ter a sensação de que eu tinha com quem contar é mais importante do que efetivamente ter essa pessoa porque, muitas vezes, a gente não se vale dessa suposta ajuda. Então, isso me deu muitos quilômetros para eu poder rodar quando eu imaginava que já estava esgotada. Isso pra mim foi muito inesquecível
Mãe solo, Flávia se viu em apuros com seu bebê, que adoeceu na virada de 2019 para 2020 e, novamente, contou com o apoio do Supermães, após relatar no grupo do WhatsApp o que estava passando. “A Josemara nos visitou no começo do ano, depois de uma internação do Benício no hospital. Ela foi de uma delicadeza incrível, ela trouxe a filha dela. E eu tive um dia muito feliz e diferente de todos os outros porque os meus dias eram muito iguais porque eu tirei férias pra cuidar dele e não tinha uma quebrada de ritmo, nem nada. E a Josemara foi uma luz pra mim, ela tem uma energia muito boa, é uma pessoa muito gentil, muito solícita, muito solidária, muito carinhosa e foi muito legal ela ter feito isso por mim. Eu acho que toda mulher deveria sentir essa dose de carinho na vida pra poder seguir adiante, sabe?”.
Questionada sobre como avalia o grupo Supermães, Flávia define: “Pra mim é um alento, é uma referência. São amigas, são pessoas que desconstroem muitos preconceitos que eu sempre tive com relação à maternidade e que me fazem perdoar os erros que eu pratico como mãe, na minha rotina”, comenta.
Tal avaliação vai de encontro ao que, segundo Josemara Lima, é o maior objetivo do grupo, que é diminuir a solidão materna, oferecer às mães um lugar onde possam encontrar apoio (seja virtualmente ou presencialmente). A fundadora do grupo afirma ainda que, atualmente, o desafio é fortalecer o voluntariado entre as mulheres/mães para dar continuidade aos trabalhos do grupo. O sonho da fisioterapeuta é que o Supermães se transforme em Organização Não Governamental (Ong), o que exige uma presença mais ativa das integrantes.
Por conta da correria do dia-a-dia, principalmente após o retorno ao trabalho, muitas mães acabam se tornando menos ativas e até saindo do grupo. Josemara segue firme e forte, como uma referência para as demais integrantes.
Eu acho que tomei como missão porque eu sinto como o grupo é importante para as mulheres. Me faz bem ajudar aos outros, eu me sinto útil, me sinto ajudada ajudando”, afirma. Mas ela pondera que é tendo outras pessoas pensando junto que as coisas funcionam melhor.
Comemoração
O aniversário do Supermães será comemorado na tarde do próximo sábado (25), no condomínio de uma das integrantes. O encontro vai contar com a presença do nutricionista Rodrigo Carvalho, que vai abordar os temas amamentação e importância da alimentação saudável durante a infância. A Josemara e a co-fundadora do grupo, Gisela Brunken também vão levar as atualizações sobre amamentação e compartilhar os conhecimentos que obtiveram durante o Encontro Nacional de Aleitamento Materno.
Para entrar em contato com o grupo, acesso os perfis no Facebook e no Instagram



